Estranha forma de vida

Há uma verdade nada estranha e que nos atinge como um soco no estômago no novo livro de Elesbão Ribeiro. Dividido em três partes, Estranha forma de vida apresenta a percepção do autor sobre desigualdades sociais, políticas sociais equivocadas e, finalmente, sobre o triste momento atual de pandemia. Na primeira parte, Mãe gentil, o poeta coloca o dedo na ferida ao clamar “triste brasiu /sem calça / pátria ao deus dará / não és mãe gentil / tão desalmado estás”. Na segunda parte, Cidade Proibida, retrata a pobreza extrema visível nas ruas das grandes cidades: “às cinco horas / deitado / a dormir ou desacordado / de fome ou dopado /exibe na boca entreaberta / um canino solitário”. Os poemas se sucedem e um gosto amargo vai ficando na boca e cresce um sentimento de revolta. Em “desnecessidade”, a violência se revela gratuita e chocante: “estamos cansados / fracos / não nos pisem mais / com suas botas”. Na terceira parte, A Peste atinge a todos por expor uma realidade vívida e sem fim. E, principalmente, o medo presente em tudo e em todos. O medo de amar, de viver, de morrer, como em “visitas”: “um de nós sem saber / pode estar doente / e adoecer o outro”. Ao término da leitura dos poemas, fica uma sensação de pertencimento, mesmo que haja a angústia de fazer parte de uma sociedade tão desigual, maculada por ignorar os pobres e miseráveis, por não lutar contra os descalabros das instituições dominantes. Talvez a leitura dos poemas nos impulsione a enxergar a realidade nefasta em que vivemos.
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