ALBUQUERQUE, Mayara. Os filhos de Poveglia. 1. ed. Belém, PA: Editora Folheando, 2020.

Século XIV — Itália. Amelie tremia na escuridão. Tremia como se a morte estivesse bem ao seu lado, lhe envolvendo com suas mãos álgidas. Disso ela não duvidava. Afinal os inúmeros cadáveres postos naquela cripta já haviam sido tocados por aquelas mesmas mãos. Seus longos cabelos escuros estavam sujos e desgrenhados. Ela agarrava a beira de seu vestido surrado feito de pele de cabra, como se isso fosse lhe trazer algum consolo, mas o consolo não vinha. Ele também não veio quando seu filho e seu marido foram levados pela peste bubônica, dias antes. Amelie parecia imune; por algum motivo, não era afetada pela doença. Uma maldição, pensou consigo.